Por Irmão Acyr
"Utilizamos de
nossos próprios meios carnais e pensamos que estamos esperando em Deus! E pedimos para Ele abençoar aquilo que planejamos em nossos engenhosos corações, o que apenas O
afasta de nós, porque demonstra nossa falha em depender somente dEle. Na obra
de Deus, apenas os meios de Deus são aprovados".
Gênesis 32:1 – “JACÓ também seguiu o seu caminho, e encontraram-no os anjos
de Deus”. Deus jamais desiste de seus servos escolhidos, vemos
claramente nesta passagem que Deus deixa claro a Jacó qual seria sua companhia
na jornada: “O exército do céu”. Assim como foi
com Eliseu na guerra contra os Siros: II Reis 6:16 –
“E ele disse: Não temas; porque mais são os que estão
conosco do que os que estão com eles”. Mas qual é a reação de Jacó
diante desta revelação? Ele se alegra sabendo que estava sobre promessa de Deus
e na segurança do céu? Infelizmente não, ele se volta aos seus planos e
táticas, ele usa suas antigas ferramentas da
sabedoria carnal: Gênesis 32:3,6 – “E enviou Jacó mensageiros adiante de si a Esaú..... E os
mensageiros voltaram a Jacó, dizendo: Fomos a teu irmão Esaú; e também ele vem
para encontrar-te, e quatrocentos homens com ele”. Definitivamente, ao invés de
simplesmente confiar na promessa de Deus (Gênesis 31:3 –
“...Torna-te à terra dos teus pais, e à tua parentela, e eu serei contigo”),
Jacó prefere fazer estratégias:
Gênesis 32:7,8 – “Então
Jacó temeu muito e angustiou-se; e repartiu o povo que com ele estava, e as
ovelhas, e as vacas, e os camelos, em dois bandos. Porque dizia: Se Esaú vier a
um bando e o ferir, o outro bando escapará”. Seu primeiro pensamento é
sempre um plano alternativo; Não somos assim todos nós? Confiamos em Deus, até
certo ponto, mas no caso de Deus demorar muito ou parecer distante, lanço mão
dos meus próprios recursos e criatividade carnal, não desejo confiar unicamente
em Deus. A nossa terrível condição é que fazemos planos e depois pedimos para
Deus aprovar e abençoar os nossos planos, mas nunca deveria ser assim, se
queremos Deus no controle, então é Ele quem faz os planos e dirige nossos
passos. Ele não abençoará os nossos planos, mas antes, nos dará planos
abençoados de Sua Mente.
Quantas vezes sentimo-nos
satisfeitos em acrescentar orações aos nossos planos, usamos todos os nossos
métodos e depois pedimos a Deus para abençoar. Mas certo é que devemos chegar,
antes, ao fim de tudo que o “eu” tem alguma participação para só então, vermos
a manifestação de Deus. Todavia, nós nunca podemos chegar ao fim dos nossos
planos até sermos levados ao fim de nós próprios. Devemos ver que “...Toda carne é erva, e toda a sua beleza, como a flor do
campo. Seca-se a erva, e cai a flor, soprando nela o Espírito do Senhor...”(Isaias40:6e7).
Gen.32:22a32 - Após todos os
seus planos e preparativos prontos, então algo inesperado e incrível ocorre com
Jacó: Ele “...porém, ficou só; e lutou com ele um
varão, até que a alva subiu”. Este é um ponto decisivo em sua história,
ficar a sós com Deus é o único meio de chegar a um conhecimento justo e
verdadeiro de nossos próprios caminhos. Somente quando pesamos nossas vidas e
nossos feitos na balança do santuário é que
conhecemos seu real valor... não importa o que nós ou as outras pessoas pensam
a nosso respeito e sim, o que Deus pensa. Longe do mundo; longe do eu; longe de
todos os pensamentos, argumentos, cálculos, e emoções da natureza, e “só com
Deus” é que podemos obter um juízo correto de nossa condição.
“Lutou com ele um
varão”.
Devemos notar que não foi Jacó que lutou com um varão e sim o varão que lutou
com ele. Esta história é vulgarmente conhecida como o poder de Jacó na oração,
mas o contexto deixa claro que não é assim, pois aquele que luta é sempre o que
pretende alcançar algo do outro e neste quadro, quem luta é o varão pois ele
pretendia arrancar algo de Jacó. Deus pretendia arrancar de Jacó a correta visão
acerca de si mesmo, ele precisava enxergar que fraca e débil criatura ele era,
mas como Jacó resistia tenazmente ao tratamento divino, o varão “tocou a juntura de sua coxa; e se deslocou a juntura da coxa
de Jacó, lutando com ele”. A sentença de morte tem que ser lavrada sobre
a carne – o poder da Cruz tem que ser compreendido antes de podermos andar
firmemente com Deus. Até aqui vimos toda a desenvoltura e poder do caráter de
Jacó, seus planos, sua engenhosidade, sua perspicácia durante os 20 anos de estadia
com Labão, mas neste episódio sua carne é tocada, o ponto mais resistente e
forte de seu corpo é danificado de forma definitiva, ele se torna um aleijado
na carne, como Mefibosete (IISm.4:4), já não pode mais lutar, não pode mais
correr, não pode contar com a força da carne........ tudo o que ele pode fazer
é exclamar ao Senhor: “não te deixarei ir” ....
oh maravilhosa e sublime declaração, como disse o poeta:
“Nenhum
outro refúgio tenho;
Minha
alma desamparada apega-se a Ti”.
“Eu o aplacarei
com o presente”, este era o engenhoso Jacó, ele tinha em sua
carne astuta muitos recursos, mas agora, ele está entrando em uma nova era de
sua história, ele aprenderá que a fé, a verdadeira fé, representa uma completa
dependência de Deus e de Seus meios, não se utiliza de nada e nem resgata nada
de nossa velha natureza.
Nossa grande falha, é que
muitas vezes por trás de uma aparente piedade, nós, na verdade, nos utilizamos
de nossos próprios meios carnais e pensamos que estamos esperando em Deus para
abençoar aquilo que planejamos em nossos engenhosos corações, o que apenas O
afasta de nós, porque demonstra nossa falha em depender somente Dele. Na obra
de Deus, apenas os meios de Deus são aprovados.
Chegar ao ponto de dizer: “Não te deixarei ir se não me abençoares”, não é algo
fácil de se atingir, Jacó lutou muito, pois ele confiava demais em sua carne,
porém Deus é um especialista em deprimir o caráter mais ativo. Ele sabe como
tocar a mola do poder da natureza, e escrever a sentença de morte inteiramente
sobre ela; enquanto isso não é feito, não pode haver verdadeiro poder com Deus
ou o homem. Temos de ser “fracos” para podermos
ser “fortes”. “O poder de Cristo” só pode “repousar sobre nós” em ligação com o conhecimento de
nossas fraquezas. Cristo jamais colocará o selo de Sua aprovação sobre o poder
da natureza caída e manchada pelo pecado: Todas estas coisas tem que
submergir-se para que Ele possa levantar-Se.
Gênesis 32:27 - E
disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. Aqui vemos Jacó (suplantador,
enganador) sendo intimidado a enfrentar de forma definitiva sua velha natureza
na forma descrita por seu nome. Ele confessa ser Jacó, compreende a implicação
disso, a manifestação do “eu” em toda a sua deformidade moral, ainda assim, é
abençoado independentemente de sua condição ou mérito e passa a chamar-se
Israel (príncipe). Recebeu seu novo nome quando a juntura de sua coxa foi
tocada. Tornou-se num príncipe poderoso quando foi levado a conhecer-se como
homem fraco; Ainda assim o Senhor teve de dizer: “Por que
perguntas pelo meu nome?” Não é feita a revelação d´Aquele que, todavia,
havia posto a descoberta do verdadeiro nome e condição de Jacó.
De tudo isso podemos
entender que é uma coisa sermos abençoados pelo Senhor e outra inteiramente
distinta termos a revelação de Seu caráter, por meio do Espírito, aos nossos
corações. “E abençoou-o ali”, mas não lhe disse
o Seu nome. Há grande benção em sermos levados a conhecermo-nos a nós próprios
e poder discernir claramente o que Deus é para nós, e tudo o que foi necessário
fazer por nós na Cruz em que nos transformou. Foi assim com Jacó quando a
juntura de sua coxa foi tocada e ele já não podia mais correr, caso seu irmão
viesse para matá-lo, agora ele estava obrigado a depender unicamente de Deus e
de Sua misericórdia.
Gênesis 32:30 - E
chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face
a face, e a minha alma foi salva. Jacó não sabia ainda o nome
d´Aquele Homem, mas compreendeu ser o Deus-Homem, o Único capaz de salvar a sua
pobre alma. Ele ainda seria levado a conhecer mais intimamente esse Deus
maravilhoso e veremos isso no restante de sua história.
Desejo frisar também que, o
livro de Jó é, em certo sentido, um comentário pormenorizado desta cena na
história de Jacó. Através dos primeiros trinta e um capítulos de seu livro, Jó
discute com seus amigos, e mantém o seu ponto de vista contra todos os seus
argumentos. Porém, no capítulo 32, Deus, por intermédio de Eliú, começa a lutar
com ele; e, no capítulo 38 vem diretamente sobre ele com toda a majestade do
Seu poder, subjuga-o pela manifestação da Sua grandeza e glória, e arranca-lhe
as palavras bem conhecidas: Jó 42:5e6 – “Com o ouvir
dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso me abomino e
me arrependo no pó e na cinza”. Isto era realmente tocar a juntura da
sua coxa. E notemos esta expressão, “agora te vêem os
meus olhos”.
Ele não diz vêem-me os meus
olhos; não, mas “vêem-Te”. Nada senão uma visão
do que Deus é, pode realmente levar ao arrependimento e a verdadeira abominação
de si mesmo. Assim acontecerá com o povo de Israel, cuja história é análoga à
de Jó. Quando eles contemplarem Aquele que feriram, lamentar-se-ão, e então
haverá plena restauração e bênção (Ap.1:7). O seu fim, a semelhança de Jó, será melhor do
que o princípio. Aprenderão o pleno significado desta frase, “para tua perda, ó Israel, te rebelaste contra mim, contra o
Teu ajudador” (Os.13:9).