domingo, 10 de março de 2013


 Como é gerado um falso profeta?

Por Irmão Acyr
"Passei a me preocupar com aquilo que Deus vê em meu coração; será que o desejo de reconhecimento e grandeza e fortunas neste mundo ainda residem de forma velada, sem que eu mesmo possa perceber?

Esta sempre foi uma pergunta intrigante para mim, pois sempre acreditei que os requisitos eram:
Ser muito ganancioso, eloquente, ter boa oratória e, acima de tudo, fazer qualquer coisa por dinheiro, estes seriam os perfeitos atributos para ser um falso profeta.
Estas minhas convicções caíram por terra no dia em que recebi um e-mail, de um irmão muito querido e temente a Deus, dizendo mais ou menos assim: “Deus me disse que se você não parar com a rebeldia e amar sua futura esposa, da mesma forma que Cristo amou a Igreja e sofreu por ela suportando todas as falhas e defeitos e nunca desistindo dela, antes tratando-a com amor e sendo cura para ela, se você não se posicionar agora, Eu ensurdecerei seus ouvidos para a minha Palavra e te transformarei em um falso profeta".
Sendo um crente tradicional, crendo na teologia reformada e calvinista, eu jamais daria ouvidos a uma profecia recebida por e-mail e, também, jamais cogitaria a ideia de ser um falso profeta. Mas estas Palavras atingiram meu coração de tal forma que fiquei aterrado, em grande angústia pois sabia que eram verdades solenes vindas do Senhor, de alguma forma, que não sei explicar, eu sabia!
Partindo da analogia acerca do amor de Cristo para Sua Igreja e daquilo que se passa no coração de uma pessoa que um dia virá a ser um falso profeta, comecei a mudar meus conceitos acerca das prerrogativas necessárias para seu surgimento; cheguei à conclusão que, aos olhos de Deus, um falso profeta nasce em um homem que não ama verdadeiramente a Igreja, mas oferece a ela um amor fingido; um amor que tem outras motivações, podendo ser o dinheiro, a posição social, o conforto, a fama, o destaque ou, quem sabe, o sucesso pessoal.

Por força do hábito, decidi pesquisar como nasceram os falsos profetas da Bíblia, pois Ela é sempre a fonte Fiel para todos os anseios e questionamentos do crente sincero. A primeira personificação do falso profeta que me lembro, foi a serpente, prometendo a Eva que ela seria como Deus se comesse do fruto do conhecimento (Gn.3:5), o incrível é que, mesmo em nossos dias, muitos homens de ciência acreditam que são deuses de si mesmos.
O segundo personagem que me lembro, parece ter sido Balaão, tremendo homem de Deus, falava exatamente o que Deus mandava, cheio do conhecimento das coisas e das obras de Deus, vejamos: Números 23:11e12 – “Então disse Balaque a Balaão: Que me fizeste? Chamei-te para amaldiçoar os meus inimigos, mas eis que inteiramente os abençoaste. E ele respondeu, e disse: Porventura não terei cuidado de falar o que o SENHOR pôs na minha boca?” Veja quanta fidelidade à palavra de Deus encontramos nesta passagem.
Mas alguma coisa acontece, quando chegamos ao capítulo 25 de números, muitos daqueles Israelitas que não puderam ser amaldiçoados no capítulo 23, desta vez são amaldiçoados e Deus mata 24 mil pessoas do Seu povo por haverem eles se misturado com as mulheres moabitas. A princípio, nosso profeta em questão parece nada ter a ver com esse episódio, mas quando chegamos ao capítulo 31 descobrimos: Nm.31:16 - Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, deram ocasião aos filhos de Israel de transgredir contra o SENHOR no caso de Peor; por isso houve aquela praga entre a congregação do SENHOR.
O homem era como a boca de Deus, falava exatamente aquilo que o Senhor ordenava, conhecia a Palavra de Deus, certamente tinha domínio de massa para que a multidão ficasse suspensa em suas palavras e ele pudesse convencê-los de novas formas de relacionamentos conjugais, até então, proibidos pelo Senhor. Pedro nos diz que Balaão possuía um amor: IIPedro 2:15 – “Os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça;” 
Naturalmente, uma pergunta que me veio à mente, era acerca desse prêmio da injustiça, afinal eu sempre pensei que injustiça recebesse punição e não prêmio! Mas a resposta vem da boca do Senhor Jesus: Lucas 16:9 – “E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça”; O Senhor Jesus nos diz que os sistemas vigentes de recompensa, pagamentos e dinheiro, são injustos, muitos recebem mais e, outros menos do que merecem, mas ainda assim, toda essa riqueza da injustiça (dinheiro) pode ser usada para ajudar pessoas em caridades e auxílio, fazendo assim, amigos para a eternidade. A riqueza da injustiça, ou o prêmio da injustiça é, então, o tão cobiçado e desejado dinheiro. Balaão o amava!
O terceiro falso profeta que me lembro, foi Saul, homem que foi cheio do Espírito Santo e profetizou: ISamuel 19:24 – “E ele também despiu as suas vestes, e profetizou diante de Samuel, e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite; por isso se diz: Está também Saul entre os profetas?” Mas um dia, um espírito mau, “vindo da parte do Senhor” (ISm.19:9) veio sobre Saul e este passou a tentar matar David, pois sentia uma ameaça sobre seu trono e sua fortuna. Seu status, seu reconhecimento diante do povo estava ameaçado, assim, ele troca o Espírito do Senhor pelo espírito do prêmio de Balaão.
O quarto que me lembro, na verdade não um, mas um grupo, eram os inimigos de Micaías, eles desejavam agradar o rei, não queriam, de forma alguma, utilizar palavras desagradáveis e perder seus salários e regalias junto ao trono de Acabe. Em resposta, o Senhor lhes dá o que sempre desejaram: IReis 22:22 – “E disse ele: Eu sairei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas. E ele disse: Tu o induzirás, e ainda prevalecerás; sai e faze assim”.
O que mais me assombra na história desses profetas é o fato de que o espírito de mentira que estava em suas bocas tinham a autorização e aval do Senhor para agirem. O quinto que me lembro, é o famoso mágico Simeão de Atos 8:9e10 – “E estava ali um certo homem, chamado Simão, que anteriormente exercera naquela cidade a arte mágica, e tinha iludido o povo de Samaria, dizendo que era uma grande personagem; Ao qual todos atendiam, desde o menor até ao maior, dizendo: Este é a grande virtude de Deus”. Sua mágica e suas ilusões fizeram que o povo afirmasse ser ele a grande virtude, ou, o grande poder encarnado de Deus. Sem dúvida, um homem fascinado por poder e, quando viu os apóstolos “aparentemente” manipulando o poder do Espírito Santo, ele desejou de imediato esse recurso, sem dúvida ele deseja mais fama e mais influência sobre o povo.
Interessante, também, é que todos esses profetas, pelo menos em alguma medida, experimentaram o poder de Deus, eles conheciam a Deus, conheciam a Palavra de Deus, mas chegou um momento em suas histórias no qual Deus lhes deu espírito de profundo sono, como diz Isaías 29:10 – “Porque o SENHOR derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes.” Esse ideia me causa profundo temor, será que algum dia poderei eu ainda ser tomado por esse espírito de profundo sono? Eu rogo, clamo e confio no Senhor que isto não me acontecerá, mas de tudo isso, aprendo nestes textos que o nosso Deus soberano tem nas mãos o nosso coração, nossas vidas, nossa almas; Ele vê por trás de todo o véu, Hb.4:13 – “E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.”
Passei a me preocupar com aquilo que Deus vê em meu coração; será que o desejo de reconhecimento, grandeza e fortunas neste mundo ainda residem de forma velada, sem que eu mesmo possa perceber? Hb.12:29 – “Nosso Deus é um fogo consumidor.” Certamente consumirá e destruirá toda impureza.
Assim como Balaão que amou o prêmio da injustiça (recompensa financeira), com muita tristeza, tenho visto profetas do Senhor, líderes carismáticos, homens que foram tremendamente usados por Deus em algum tempo, prostituindo seus ministérios, fazendo do povo de Deus “negócio” (IIPe.2:3), transformando a casa de oração em uma empresa lucrativa onde se vende de tudo, desde o CD gospel de mensagens ou de músicas até as águas milagrosas e a pedra santa do ribeiro Cedrom. E quem são esses falsos profetas, de onde eles surgiram? O Apóstolo Paulo responde de forma solene: Atos 20:29 – “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho;”
Eles surgem em nosso meio; como então reconhecê-los? Eu penso que o Espírito do Senhor sempre nos ajuda; mas algumas coisas são bem notórias nestes ministérios, eles enfatizam muito as bênçãos financeiras, bênçãos materiais e, também, nas áreas de saúde e prosperidade, para que o crente viva confortavelmente bem neste mundo, e não pense com tanta frequência acerca da possibilidade de ir morar no céu. Gostam de discutir salários com a Igreja e estão sempre em busca de crescimento numérico e das necessidades financeiras da “Igreja”, nunca crêem que Deus é o dono da obra e Ele pode supri-la da única forma que Ele ordenou em Sua Palavra, ou seja, através de dízimos e ofertas.
Alguns têm grande interesse em salários gordos, afirmam, para se justificar, que um pastor deve ser muito bem remunerado, sempre mais de 20 salários, ainda que a média dos trabalhadores membros da Igreja seja em torno de 2 a 3 salários. Argumentam que se os deputados e congressistas que servem aos governos deste mundo ganham muito bem, quase quarenta salários, então eles, ministros do Deus altíssimo, governador do céus e da terra, dono de todos os recursos, devem ganhar muito mais que simples políticos.
Também reiteram que precisam investir na aparência para tornar mais bela a congregação à vista do mundo, ou seja, precisam mostrar ao mundo como é “legal ser crente”, como é lucrativo e atraente, de forma que as pessoas do mundo se sintam atraídas pela religião; desta forma, os falsos profetas desejam ter roupas de grife, carrões chamativos e casas caras, exatamente contrário ao que o Senhor ordenou aos seus ministros: Romanos 12:16 – “Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos;” Argumentam então que: “os fins justificam os meios”, o importante é o resultado e não a estreita obediência à Palavra de Deus.
Termino este desabafo confessando que fiquei petrificado e muito assustado com a possibilidade de me tornar um falso profeta, depois de estudar tanto a Palavra de Deus, de me dedicar tanto... mas eu sinto em meu coração a verdade destas palavras e desejo exortar a todo irmão que ler este texto com sinceridade: ICorintios 11:28 – “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice”.
Eu concluo, lembrando e exortando que um falso profeta não é sempre um simples enganador em busca de dinheiro e fama, antes, pelo contrário, pode ser um homem sincero em suas convicções, guiado por um espírito maligno da parte do Senhor e que faça o seu trabalho com muito zelo, confiança e dedicação, pois como disse o Apóstolo Paulo, “é necessário que hajam heresias entre vós a fim de que os sinceros sejam provados” (ICor.11:19). 
Parece-me que precisamos mesmo saber de que lado estamos e que, não será possível reconhecer um falso profeta tão facilmente, precisamos clamar pela ajuda do Senhor a fim de não sermos enganados por eles, ou, para nosso desalento, virmos a nos tornar mais um de seus páreas.

            Que Deus muito os abençoe.

            Irmão Acyr

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