Deus Fala Com o Homem Que Mostra Interesse
A. W. Tozer
"O coração do que brinca com assuntos religiosos será destruído pelo brilho excessivo da verdade em que tocar".
A Bíblia foi escrita em lágrimas e aos que choram revelará
os seus melhores tesouros. Deus nada tem a dizer ao individuo frívolo.
Foi a Moisés, um homem
atemorizado, que Deus falou no monte, e esse mesmo homem mais tarde salvou a
nação quando se prostrou diante de Deus oferecendo-se para que seu nome fosse
apagado do livro divino a favor de Israel. O longo período de jejum e oração de
Daniel fez com que Gabriel descesse dos céus e lhe contasse o segredo dos
séculos. Quando o amado João chorou muito por não haver ninguém digno de abrir
o livro de sete selos, um dos anciãos
confortou-o com as alegres novas de que o Leão da tribo de Judá tinha
vencido.
Os salmistas com frequência escreviam
chorando, os profetas mal conseguiam ocultar a tristeza, e o apostolo Paulo em
sua epístola alegre aos filipenses, derramou lágrimas ao pensar nos muitos
inimigos da cruz de Cristo cujo fim seria a destruição eterna. Os líderes
cristãos que abalaram o mundo foram todos homens de dores, cujo testemunho à
humanidade brotou de corações pesados. Não existe poder nas lágrimas em si, mas
as lágrimas e o poder sempre estiveram juntos na Igreja dos Primogênitos.
A ideia de que os escritos dos
profetas abatidos pela tristeza são muitas vezes estudados por pessoas
simplesmente curiosas, que jamais derramaram uma única lágrima pelos males do
mundo não é de modo algum animadora. Elas especulam sobre os acontecimentos
futuros, esquecendo-se de que o único propósito da profecia bíblica é
preparar-nos tanto moral como espiritualmente para o momento que virá.
A doutrina da volta de Cristo está
sendo negligenciada, e pelo que posso constatar ela não exerce hoje qualquer
poder sobre os cristãos comuns. Alguns fatores contribuem certamente para isso;
mas o principal, em minha opinião foi o infortúnio sofrido pela verdade
profética entre as duas guerras mundiais, quando homens de olhos secos
decidiram instruir-nos a respeito dos escritos dos profetas lacrimosos.
Multidões e ofertas generosas foram o resultado até que os acontecimentos
provaram o erro dos mestres e em grande número de pontos; a reação não se fez
demorar e a profecia entrou em desfavor junto às massas. Este foi um truque
engenhoso do diabo e funcionou muito bem. Devemos aprender que não é possível
tratar das coisas santas sem sofrer as consequências.
Outra esfera em que os homens sem
lágrimas nos prejudicaram muito foi na oração pelos doentes. Sempre houve
homens reverentes, compenetrados, que julgaram ser um dever sagrado orar pelos
doentes para que pudessem ser curados segundo a vontade de Deus. Foi dito que
as orações de Spurgeon levantaram mais doentes do que as ministrações de
qualquer médico de Londres. Quando os promotores de olhos secos se apossaram da
doutrina, ela foi transformada num negócio lucrativo. Homens de maneiras
suaves, persuasivas, usaram métodos de venda superiores a fim de fazer grandes
fortunas com suas campanhas.
Suas grandes propriedades e esplêndidos
investimentos financeiros provam como tiveram êxito em separar os doentes e os
sofredores do seu dinheiro. E tudo isso em nome do Homem de Dores que não tinha
onde repousar a cabeça.
Tudo que é feito sem envolver o
coração é feito nas trevas, não importa quão bíblico pareça ser. Pela lei da
justa compensação, o coração do que brinca com assuntos religiosos será
destruído pelo brilho excessivo da verdade em que tocar. Os olhos sem lágrimas
serão finalmente cegados pela luz que contemplam.
Nós que pertencemos às igrejas não-
litúrgicas temos a tendência de considerar com certo desdém aquelas igrejas que
seguem uma forma de serviço cuidadosamente prescrita, e certamente deve haver
muito em tais serviços que tem pouco ou nenhum significado para o participante
comum – isto não se deve ao fato de ser programado com detalhes, mas porque o
participante comum é o que é. Observei, entretanto, que nosso serviço
improvisado, planejado pelo líder vinte minutos antes, com frequência tende a
seguir uma ordem deprimente, cansativa, quase tão padronizada quanto a missa. O
serviço litúrgico é pelo menos belo, enquanto o nosso quase sempre se destaca
por ser feio. O deles foi cuidadosamente elaborado através dos séculos a fim de
capturar o máximo de beleza possível e preservar um espírito de reverência
entre os adoradores. O nosso é com frequência algo provisório, sem nada que o
recomende. A sua proclamada liberdade não passa de simples relaxamento.
Em teoria, quando a reunião não é
planejada, o Espírito Santo opera livremente e isso seria verdadeiro se todos
os adoradores mostrassem reverência e fossem cheios do Espírito. Mas na maioria
das vezes não há ordem nem Espírito, apenas uma oração de rotina que, exceto
por pequenas variações, é sempre a mesma, semana após semana, e alguns hinos
que já não eram muito bons desde o início
e com o tempo perderam todo seu significado pela repetição.
Na maioria dos nossos cultos
dificilmente existe um traço de pensamentos reverentes, nenhum reconhecimento
da unidade do corpo, e pouco ou nenhum senso da Presença divina, nenhum momento
de quietude, solenidade, admiração, temor santo. No geral, o que existe é um regente
de cânticos distraídos, que tenta fazer graça, e um encarregado que anuncia
cada “número” como um programa radiofônico, esforçando-se para dar continuidade
ao espetáculo.
Toda família cristã está
necessitando desesperadamente de uma restauração da penitência, da humildade e
das lágrimas. Possa Deus enviá-las muito em breve.
Texto retirado do livro "O melhor de A. W. Tozer" página 52
Texto retirado do livro "O melhor de A. W. Tozer" página 52