domingo, 12 de maio de 2013

Deus Fala Com o Homem Que Mostra Interesse

A. W. Tozer

"O coração do que brinca com assuntos religiosos será destruído pelo brilho excessivo da verdade em que tocar".


A Bíblia foi escrita em lágrimas e aos que choram revelará os seus melhores tesouros. Deus nada tem a dizer ao individuo frívolo.

Foi a Moisés, um homem atemorizado, que Deus falou no monte, e esse mesmo homem mais tarde salvou a nação quando se prostrou diante de Deus oferecendo-se para que seu nome fosse apagado do livro divino a favor de Israel. O longo período de jejum e oração de Daniel fez com que Gabriel descesse dos céus e lhe contasse o segredo dos séculos. Quando o amado João chorou muito por não haver ninguém digno de abrir o livro de sete selos, um dos anciãos  confortou-o com as alegres novas de que o Leão da tribo de Judá tinha vencido.

Os salmistas com frequência escreviam chorando, os profetas mal conseguiam ocultar a tristeza, e o apostolo Paulo em sua epístola alegre aos filipenses, derramou lágrimas ao pensar nos muitos inimigos da cruz de Cristo cujo fim seria a destruição eterna. Os líderes cristãos que abalaram o mundo foram todos homens de dores, cujo testemunho à humanidade brotou de corações pesados. Não existe poder nas lágrimas em si, mas as lágrimas e o poder sempre estiveram juntos na Igreja dos Primogênitos.

A ideia de que os escritos dos profetas abatidos pela tristeza são muitas vezes estudados por pessoas simplesmente curiosas, que jamais derramaram uma única lágrima pelos males do mundo não é de modo algum animadora. Elas especulam sobre os acontecimentos futuros, esquecendo-se de que o único propósito da profecia bíblica é preparar-nos tanto moral como espiritualmente para o momento que virá.

A doutrina da volta de Cristo está sendo negligenciada, e pelo que posso constatar ela não exerce hoje qualquer poder sobre os cristãos comuns. Alguns fatores contribuem certamente para isso; mas o principal, em minha opinião foi o infortúnio sofrido pela verdade profética entre as duas guerras mundiais, quando homens de olhos secos decidiram instruir-nos a respeito dos escritos dos profetas lacrimosos. Multidões e ofertas generosas foram o resultado até que os acontecimentos provaram o erro dos mestres e em grande número de pontos; a reação não se fez demorar e a profecia entrou em desfavor junto às massas. Este foi um truque engenhoso do diabo e funcionou muito bem. Devemos aprender que não é possível tratar das coisas santas sem sofrer as consequências.

Outra esfera em que os homens sem lágrimas nos prejudicaram muito foi na oração pelos doentes. Sempre houve homens reverentes, compenetrados, que julgaram ser um dever sagrado orar pelos doentes para que pudessem ser curados segundo a vontade de Deus. Foi dito que as orações de Spurgeon levantaram mais doentes do que as ministrações de qualquer médico de Londres. Quando os promotores de olhos secos se apossaram da doutrina, ela foi transformada num negócio lucrativo. Homens de maneiras suaves, persuasivas, usaram métodos de venda superiores a fim de fazer grandes fortunas com suas campanhas. 

Suas grandes propriedades e esplêndidos investimentos financeiros provam como tiveram êxito em separar os doentes e os sofredores do seu dinheiro. E tudo isso em nome do Homem de Dores que não tinha onde repousar a cabeça.

Tudo que é feito sem envolver o coração é feito nas trevas, não importa quão bíblico pareça ser. Pela lei da justa compensação, o coração do que brinca com assuntos religiosos será destruído pelo brilho excessivo da verdade em que tocar. Os olhos sem lágrimas serão finalmente cegados pela luz que contemplam.

Nós que pertencemos às igrejas não- litúrgicas temos a tendência de considerar com certo desdém aquelas igrejas que seguem uma forma de serviço cuidadosamente prescrita, e certamente deve haver muito em tais serviços que tem pouco ou nenhum significado para o participante comum – isto não se deve ao fato de ser programado com detalhes, mas porque o participante comum é o que é. Observei, entretanto, que nosso serviço improvisado, planejado pelo líder vinte minutos antes, com frequência tende a seguir uma ordem deprimente, cansativa, quase tão padronizada quanto a missa. O serviço litúrgico é pelo menos belo, enquanto o nosso quase sempre se destaca por ser feio. O deles foi cuidadosamente elaborado através dos séculos a fim de capturar o máximo de beleza possível e preservar um espírito de reverência entre os adoradores. O nosso é com frequência algo provisório, sem nada que o recomende. A sua proclamada liberdade não passa de simples relaxamento.

Em teoria, quando a reunião não é planejada, o Espírito Santo opera livremente e isso seria verdadeiro se todos os adoradores mostrassem reverência e fossem cheios do Espírito. Mas na maioria das vezes não há ordem nem Espírito, apenas uma oração de rotina que, exceto por pequenas variações, é sempre a mesma, semana após semana, e alguns hinos que já não eram muito bons desde o início  e com o tempo perderam todo seu significado pela repetição.

Na maioria dos nossos cultos dificilmente existe um traço de pensamentos reverentes, nenhum reconhecimento da unidade do corpo, e pouco ou nenhum senso da Presença divina, nenhum momento de quietude, solenidade, admiração, temor santo. No geral, o que existe é um regente de cânticos distraídos, que tenta fazer graça, e um encarregado que anuncia cada “número” como um programa radiofônico, esforçando-se para dar continuidade ao espetáculo.

Toda família cristã está necessitando desesperadamente de uma restauração da penitência, da humildade e das lágrimas. Possa Deus enviá-las muito em breve.


Texto retirado do livro "O melhor de A. W. Tozer"  página 52

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