A Cruz e a Graça
"Que maravilhosa contradição, a Graça trazendo as inefáveis e belíssimas revelações, a Cruz trazendo o espinho, um demônio enviado por Deus, para corrigir, equilibrar e ajustar as coisas na vida de Paulo".

Para que possamos compreender essas diferenças e a
forma como agem em nossa caminhada com Cristo, iremos dar as definições de cada
uma dessas dádivas que nosso Deus nos concedeu em Cristo Jesus:
1- Graça: Do grego Charis, que significa: favor imerecido, algo que se recebe de Deus, sem mérito algum e sem nada dar em troca, algo realmente gratuito.
2- Cruz: Arma mortal; antigo instrumento de suplício (sofrimento) em que se amarravam condenados à morte (Dicionário Aurélio); provavelmente, o mais cruel método de execução já praticado, pois deliberadamente atrasa a morte até que a máxima tortura seja infligida.
De queforma se
relacionam, na vida do crente, esses dois dons, ou seja, a cruz, para a qual
somos convidados pelo Senhor quando Ele, peremptoriamente, nos diz: “Aquele que quiser vir
após mim, tome a cada dia sua cruz e siga-me” e a Graça, acerca da qual somos
informados pelo Espírito Santo: “Porque a Graça de Deus se há manifestado,
trazendo salvação a todos os homens”(Tt.2:11).
Finalmente, como podem duas proposições tão diversas trabalharem juntas em nossa vida e,
qual a necessidade que se tem de carregar a Cruz se a salvação é de
Graça. A graça diz: “Pela Graça sois salvos, por meio da fé; e isto não
vem de vós é dom de Deus. Não vem das obras para que ninguém se glorie” (Ef.2:8e9).
A Cruz diz: Todo aquele que tomar a
Cruz, deverá caminhar para seu próprio fim, o fim da sua “vida” (Ego),
enfrentar a morte (do Eu). Segundo os historiadores, quatro anos antes do
nascimento de Jesus, Jerusalém foi atacada pelo General romano Varus que crucificou
e matou cerca de dois mil judeus, e todos foram obrigados a carregar sua
própria Cruz antes da execução.
Esta era uma forma de tornar a morte
ainda mais cruel e humilhante; ficou, para sempre, gravada na memória de todo o
povo judeu; eles sabiam bem o que significava “carregar a Cruz”! Eles viram
seus entes mais queridos serem assassinados cruelmente nela. Na caminhada com a
Cruz, não havia retorno, não se podia negociar; todo aquele que tomava sua cruz
já se despedira de seus amigos e familiares, sabia que não iria voltar!
E aqui, então, vemos o grande
paradoxo do Cristianismo: a Cruz nos convidando para a morte inevitável, a
Graça nos chamando para a vida abundante; na cruz está a porta estreita, “poucos são os que
acertam com ela”, na Graça, o fardo leve para todo aquele que se achega ao Senhorio de
Cristo. E que grandes dificuldades isto tem causado àqueles que têm a
incumbência de pregar o evangelho.
Alguns com muita ênfase e propriedade
falam acerca da Graça e quase se esquecem da Cruz, outros demonstram com
clareza a necessidade da Cruz, mas esquecem-se da Graça e, talvez, o que mais
necessitamos em nossos dias seja um equilíbrio entre ambas as mensagens.
Para explicar bem esse terrível
contraste, creio que o melhor de todos os exemplos seja aquele vivido pelo
apóstolo Paulo, quando em grande angústia orou três vezes ao Senhor e pediu que
fosse retirado o espinho que lhe feria a carne; um espinho que, de tanto ferir,
talvez já estivesse a ponto de matar a teimosa carne de Paulo, a fim de que ela
não contasse “vantagens ou se gloriasse” em testemunho da grandeza das
revelações a ele confiadas.
Paulo então declara: “E, para que não me
exaltasse pela excelência das revelações, foi me dado um espinho na carne, a
saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar” (IICor.12:7).
Que maravilhosa contradição, a Graça trazendo as inefáveis e belíssimas
revelações, a Cruz trazendo o espinho, um demônio enviado por Deus, para
corrigir, equilibrar e ajustar as coisas na vida de Paulo. Paulo era um homem,
“sujeito às mesmas paixões que todos nós”, ele poderia ficar vaidoso com o
ministério, poderia deixar crescer seu Ego, sua necessidade de aprovação e
reconhecimento, afinal, quantos homens na história da Igreja tiveram tantos
privilégios espirituais quanto ele?
A tentação de trocar as inúmeras
perseguições pela glória de ser elogiado, aplaudido e adquirir fama pela grandiosidade das revelações, quão grande deveriam ter sido essas tentações! Então vemos a Cruz
equilibrando tudo, espetando, espezinhando, maltratando a carne e mantendo o
corpo do pecado “dependurado no madeiro”, matando o Ego, desiludindo qualquer
desejo de grandeza!
Outro exemplo da relação entre Graça
e Cruz nos é dada por Paulo quando ele afirma: “Porque, como as aflições e sofrimentos de
Cristo são abundantes em nós (Cruz), assim também é abundante a nossa
consolação por meio de Cristo” (Graça). Em outras Palavras, a Cruz de Cristo em
mim provoca grandes conflitos e sofrimentos para matar o velho homem e me
preparar para morar no céu; a Graça me conforta, me consola e me ajuda durante
esse treinamento trabalhando junto com a Cruz; desta forma, a frase que melhor
parece descrever esta relação para todo aquele que decide tomar a Cruz é:
“Graça, a capacitação de Deus para suportar a Cruz”.
Que Deus
muito os abençoe!