segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Gênesis Capítulo 27
"Basta deixar o homem à mercê de seu próprio coração e natureza e logo escolherá, irremediavelmente, o mal. A natureza humana desconhece completamente a Deus e Sua bendita graça, por isso está arruinada e anda à caça de seus próprios caminhos e interesses e não sabe que a Verdadeira Vida está em conhecer a Deus".


Os capítulos de 27 a 35 tratam da história de Jacó e nos deixam com a intrigante questão para pensar: por que motivo Jacó o enganador, foi escolhido em lugar de Esaú, o homem do campo, amado por Isaque? Dois pontos devem ser realçados nesta história, a Soberania da Graça divina que escolhe alguém que nada merece e a completa depravação e perversidade do coração e da natureza humana.
Voltemos ao Capítulo 25 para entendermos melhor essa informação:
Gênesis 25:20a23 - E era Isaque da idade de quarenta anos, quando tomou por mulher a Rebeca, filha de Betuel, arameu de Padã-Arã, irmã de Labão, arameu. E Isaque orou insistentemente ao SENHOR por sua mulher, porquanto era estéril; e o SENHOR ouviu as suas orações, e Rebeca sua mulher concebeu. E os filhos lutavam dentro dela; então disse: Se assim é, por que sou eu assim? E foi perguntar ao SENHOR. E o SENHOR lhe disse: Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor.

Malaquias 1:2e3 - Eu vos tenho amado, diz o SENHOR. Mas vós dizeis: Em que nos tem amado? Não era Esaú irmão de Jacó? Disse o SENHOR; todavia amei a Jacó, e odiei a Esaú; e fiz dos seus montes uma desolação, e dei a sua herança aos chacais do deserto.
Romanos 9:11a13 - Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.
Aqui vemos claramente o propósito eterno de Deus quanto à Eleição da Graça. Esta expressão quer dizer muito e afasta todas as pretensões humanas e defende o direito de Deus atuar como quer. O homem tem que se curvar diante da soberania do Senhor, pois é pecador, e, como tal sem direito a atuar ou ditar. O grande valor deste conhecimento é reconhecer que não se trata daquilo que merecemos e sim daquilo que Deus tem prazer em nos dar. O filho pródigo poderia falar em ser servo, mas na realidade, nem isso ele merecia, porém o pai o colocou na posição mais elevada – o lugar de comunhão com ele.
A medida que crescemos na fé e aprendemos a ver toda a miséria que habita em nossos corações, mais e mais necessitamos compreender e estar ancorados no firme terreno da graça, pois é ai que vemos que a nossa ruína é irremediável, e portanto a graça tem de ser infinita, tem sua origem em Deus Mesmo, seu curso em Cristo, e o poder de sua aplicação e gozo no Espírito Santo. “A graça reina pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo” (Rm.5:21).
Em Jacó vemos a exibição notável do poder da natureza humana e toda a corrupção e mácula que o pecado trouxe para a humanidade. Vemos ele, antes do seu nascimento guerreando com seu irmão no ventre de sua mãe. No momento do seu nascimento, o vemos agarrado ao calcanhar de seu irmão e, depois, já na idade adulta vemos todas as suas estratégias, golpes e armações com o fim de alcançar seus objetivos. Ao mesmo tempo, tudo isso serve apenas de um fundo negro para dar maior relevo à graça soberana Daquele que condescendeu chamar-se a Si próprio de Deus de Jacó e que não descansaria até que ele fosse completamente mudado em um novo homem.
Gn.27:1a5 – Esta passagem nos mostra um figura humilhante de voluptuosidade, engano e astúcia; e quando se pensa em tais coisas em ligação com o povo de Deus é triste e doloroso. Contudo, quão Verdadeiro é o Espírito Santo que não pode apresentar um quadro parcial, antes, se pretende falar do homem, tem de mostrar como ele realmente é, e não uma enganosa simulação. Assim,conhecemos o nosso Deus como Ele é, Seu caráter e Seus caminhos, pois Ele pôde descer à profundidade da miséria e degradação humana e tratar com ela nesse estado e erguê-la para assim ter livre comunhão com Ele. Todos os defeitos, erros e falhas de Abrãao, Isaque e Jacó, foram perfeitamente lavados, e eles tomaram o seu lugar entre “os espíritos dos justos aperfeiçoados”(Hb.12:23). Estes homens permanecem nas sagradas páginas das Escrituras para nos mostrarem claramente que não foi com homens perfeitos que Deus teve de tratar e sim com pessoas como nós, “sujeitos às mesmas paixões” (At.14:15). Muito diferentes dos livros biográficos dos heróis seculares que só têm virtudes e que nos desanimam por nos fazerem sentir tão grande inferioridade diante deles.
Nada pode edificar senão a apresentação de Deus tratando com o homem como realmente ele é; Aqui vemos o idoso patriarca Isaque às portas da eternidade, com a terra e a natureza afastando-se rapidamente das suas vistas, e no entanto ocupado com um “guisado saboroso”, e prestes a agir em oposição direta ao desígnio divino abençoando o mais velho em vez do mais novo. Na verdade isto era a natureza, e a natureza com os seus olhos obscurecidos. Se Esaú vendeu sua primogenitura por um prato de lentilhas, Isaque estava prestes a dar a bênção em troca de caça.
Como isso deveria nos humilhar perante o Senhor! O conselho do Senhor tem de subsistir, Ele fará tudo o que lhe apraz. A fé sabe disto, e no poder desse conhecimento sabe esperar o tempo de Deus. É isto que a natureza não pode fazer, mas procura alcançar seus próprios fins por sua invenção. Estes são os dois grandes pontos destacados na história de Jacó – o propósito de Deus, da graça por um lado; e, por outro, a natureza maquinando e planejando alcançar aquilo que esse propósito teria infalivelmente realizado sem qualquer conspiração ou plano. Assim foi a história da Jacó e nos mostra o quanto somos deficientes na graça de dependência desinteressada e paciente em Deus. De qualquer forma a natureza estará sempre ativa, e assim, tanto quanto estiver em si, impedirá o brilho da graça e do poder divino. Deus não precisava do auxílio da esperteza de Rebeca e nem da impostura de Jacó para conseguir Seus propósitos. Ele havia dito: “O maior servirá o menor”. Isto era bastante para a fé, mas não bastante para a natureza, a qual tem sempre de adotar os seus próprios meios e nada sabe do que é esperar em Deus.
Nada pode ser mais abençoado do que esperar como uma criança, pacientemente, na posição de dependência de Deus e de Seu tempo. É verdade que isso inclui provação; porém a mente renovada aprende as lições mais profundas e as mais preciosas lições enquanto espera no Senhor, e quanto mais dura for a tentação para nos arrancar das Suas mãos, tanto maior será a bênção de nos deixarmos ali ficar. O Senhor Jesus nos mostrou uma vida de inteira dependência do Pai e quando tentado, rejeitou completamente qualquer proposta do inimigo. A Sua linguagem era: “Em Ti confio” (Sl.141:8), e outra vez: “Sobre Ti fui lançado desde a madre” (Sl.22:10).
Quando tentado pelo diabo a satisfazer Sua fome, a Sua resposta foi: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus”. Quando tentado a uma demonstração de poder e grandeza lançando-se do pináculo do templo, a Sua resposta foi: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Quando tentado a tomar posse dos reinos do mundo das mãos de outro que não Deus, e prestar homenagem a outro que não Deus, a Sua resposta foi: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele servirás” (Mt.4:4,7,10). Em resumo, nada pode seduzir o homem perfeito a abandonar o Seu lugar de completa dependência de Deus. Era o propósito de Deus dar-Lhe os reinos deste mundo, e esta era a razão porque o Senhor Jesus esperaria simplesmente e ininterruptamente em Deus o cumprimento dos Seus desígnios, a Seu próprio tempo e do Seu próprio MODO. Ele não tentou fazer de Seu jeito, mas entregou-se completamente à disposição de Deus. Só comeria quando Deus lhe desse pão; somente entraria no templo quando fosse mandado por Deus; subiria ao trono quando Deus determinasse. “Assenta-Te à minha mão direita, até que ponha os Teus inimigos por escabelo de Teus pés” (Sl.110:1).
Esta profunda dependência do Filho ao Pai é admirável além de toda a expressão. Embora igual a Deus, Ele como homem, tomou o lugar de completa dependência, alegrando-Se em fazer a Vontade do Senhor, mesmo quando todas as circunstâncias pareciam ser contra Ele. Seu alvo era sempre o de Glorificar o Pai.  E quando por fim Ele havia terminado toda a obra que o Pai Lhe confiou realizar, Ele rendeu o Seu Espírito nas mãos do Pai e Sua carne descansou na esperança da glória prometida. Assim lemos em Filip.2:5a11 Filipenses 2:5-11 – “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o SENHOR, para glória de Deus Pai”.
Gn.27:6a29 -  Como Jacó conhecia pouco, no início da sua história, a respeito da dependência de Deus, preferiu fazer tudo do seu próprio jeito e em seu próprio tempo. Considerou que muito melhor alcançar a bênção e entrar na posse da herança por meio de toda a espécie de engano e esperteza ao invés da simples dependência de Deus, que por Sua graça já o havia eleito para ser o herdeiro das promessas, e que, por Sua sabedoria e poder onipotente, cumpriria tudo o que lhe havia prometido.
Ah, mas como é bem conhecida a oposição do coração humano frente a simples dependência de Deus, basta deixa o homem a mercê de seu próprio coração e natureza e logo escolherá, irremediavelmente, o mal. A natureza humana desconhece completamente a Deus e Sua bendita graça, por isso está arruinada e anda a caça de seus próprio caminhos e interesses e não sabe que a Verdadeira Vida está em conhecer a Deus (João17:3).
O que vemos neste quadro do capítulo 27 é a natureza de Rebeca e Jacó tomando vantagem sobre a natureza de Isaque e Esaú, foi isso efetivamente. Não se contou em absoluto com Deus. O olhos de Isaque estavam obscurecidos, e eles dispuseram-se a enganá-lo, ao invés de confiarem em Deus que teria, com certeza, frustrado os planos de Isaque de dar a bênção do filho que Deus não escolhera. Toda a obra da natureza humana é lamentável, vejamos que Isaque amava Esaú, mas não por ser ele um servo fiel de Deus e sim por “sua caça era de seu gosto” (Gn.25:28). Tudo o que procede da natureza humana é egoísta, petulante e mau.
Gn.27:30a46 – Podemos, no entanto, ter a mais absoluta convicção de que só acumularemos dores e tristezas das nossas circunstâncias, o nosso destino e a nossa própria vida das mãos de Deus. Assim foi na vida de Jacó, pois podemos afirmar que depois dele ter arrancado, fraudulentamente, a bênção das mãos de seu pai, ele teve muito pouca felicidade neste mundo. Seu irmão decidiu matá-lo, para evitar ele foi obrigado a fugir da casa de seu pai; seu tio Labão enganou-o, assim como ele havia enganado seu pai, e tratou-o com grande dureza; depois de 21 anos de servidão, ele foi obrigado a deixá-lo ocultamente, não sem correr o risco de ser reconduzido ao ponto de partida e ser assassinado por seu irmão vingativo. Apenas se tinham passado os seus temores e teve de sofrer a baixeza de seu filho Rúben, em profanar a sua cama; em seguida, após o estupro de sua filha, ainda teve que deplorar a traição e crueldade de seus filhos Simeão e Levi para com os Siquemitas; foi depois enganado por seus filhos e teve que lamentar o suposto fim prematuro de José; e, para completar tudo, foi obrigado, pela fome a ir para o Egito, e ali morreu em terra estranha. Assim os caminhos da providência são justos, maravilhosos e instrutivos”.
Aqui vemos o lado sombrio da vida de Jacó, todavia, bendito seja Deus, há também um lado claro, do mesmo modo, para Deus tratar Jacó; e em todos os acontecimentos da sua vida, quando Jacó foi obrigado a colher os frutos da sua maquinação e perversidade, o Deus de Jacó tirou bem do mal e fez com que a Sua graça abundasse sobre todo o pecado e loucura de Seu pobre servo.
Quero aqui, também fazer uma observação acerca de Rebeca, Isaque e Esaú. Sobre Isaque, ainda que reconhecendo sua fraqueza e seu desejo de ir contra o desígnio de Deus revelado a Rebeca (“um povo será mais forte do que o outro povo, o maior servirá o menor ou mais moço” – Gn.25:23), mesmo assim, ele mantém, pela fé, a dignidade que Deus lhe conferiu. Ele abençoa com todo o sentimento de ter sido dotado com o poder de abençoar. Ele diz: “......abençoei-o: também será bendito........Eis que o tenho posto por senhor sobre ti, e todos os teus irmãos lhe tenho dado por servos; e de trigo e de mosto o tenho fortalecido; que te farei, pois, agora a ti, meu filho?
Isaque fala como quem, pela fé, tem à sua disposição todas as riquezas da terra. Não se nota falsa humildade, nem desce da posição elevada que ocupa por causa da manifestação da natureza e de sua fraqueza. Estava pronto a cometer um grande erro, abençoando o filho errado; mas ele conhecia a Deus e, pela fé, tomou o seu lugar de acordo com esse conhecimento dando a bênção com toda a dignidade.
É atribuição da fé elevar-nos acima de todas as nossas falhas e suas consequências para o lugar onde Deus nos tem colocado.
Quanto a Rebeca, ela teve de sentir todos os tristes resultados da sua astúcia. Sem dúvida, ela pensava que dirigiria as coisas habilmente; mas, oh!! Nunca mais viu a Jacó, seu filho amado, por consequência da sua manobra. Quão diferente teria sido se ela tivesse deixado o caso inteiramente nas mãos de Deus. Esta é a maneira da fé agir e é sempre vencedora. “E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura?” (Lc.12:25). Nada ganhamos com a nossa ansiedade e nossos projetos: Apenas excluímos Deus, isso não é ganho. É um justo castigo da mão de Deus sermos obrigados a colher os frutos dos nossos planos; e não há nada mais triste do que ver um filho de Deus esquecer-se da sua condição e privilégios para tomar a direção de seus interesses em suas próprias mãos. As Aves dos céus, e os lírios do campo, podem muito bem ser nossos mestres quando esquecemos assim nossa posição de dependência em Deus.
Finalmente, quanto a Esaú, o profeta trata-o por “profano, que por uma manjar vendeu o seu direito de primogenitura”: e “querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrimas o buscou” (Hb.12:16e17). Ficamos assim sabendo que um profano é alguém que gostaria de possuir o céu e a terra e desfrutar o presente sem perder o seu direito ao futuro. Isto não é, de modo nenhum, um caso invulgar. Mostra-nos todo o mundano que professa ser cristão, mas cuja consciência nunca experimentou os efeitos da verdade divina, e cujo coração nunca sentiu a influência da graça de Deus.
OBS:. Para acompanhar o Estudo do Livro de Gênesis a partir do capítulo 1 >CLIQUE AQUI<


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