terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Gênesis Capítulo 12
                
                                                                                                                          Irmão Acyr
"...As influências da natureza são sempre hostis à plena realização e poder prático da 'chamada de Deus'. Somente a morte quebra esses laços que nos prendem à natureza e ao mundo. É preciso que compreendamos a verdade de que se morremos em Cristo (Gl.6:14), estamos crucificados para o mundo".


Gen.12: 1 a 4 - A chamada de Abraão: “Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.... Assim partiu Abrão.......” Observando a ordem dada por Deus, podemos ver que era uma prova muito difícil para Abraão, pois ele deveria se despedir de todos os seus familiares, isto incluía seu pai e também seu sobrinho órfão, Ló. Abraão, então, partiu de Ur dos caldeus, porém, com ele levou seu pai e sobrinho (Gen11:31), seus laços de carne e sangue, e parou em Harã, que ficava na metade do caminho para chegar a Canaã, a terra prometida por Deus. Assim, ele não se desvencilhou de seus parentes mais próximos e nem chegou até o destino ordenado por Deus.

Atos 7:2 a 4 - E ele disse: Homens, irmãos, e pais, ouvi. O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, e disse-lhe: Sai da tua terra e dentre a tua parentela, e dirige-te à terra que eu te mostrar. Então saiu da terra dos caldeus, e habitou em Harã. E dali, depois que seu pai faleceu, Deus o trouxe para esta terra em que habitais agora (Canaã). Precisamos observar que a narrativa do capítulo 11 não está em ordem cronológica com o capítulo 12, pois, preocupa-se em apresentar as genealogias e não o momento exato da chamada. Assim, devemos compreender, através da mensagem de Estevão (At.7), que a chamada de Abraão ocorre ainda em Ur dos caldeus e que, ele deveria ir só, não poderia levar sua parentela. Desta forma, o Senhor, pacientemente, começa a quebrar os laços de carne, começando com Terá, pai de Abraão, que morre em Harã, antes que ele partisse em definitivo para Canaã. Abraão e, apenas Abraão, foi escolhido para ser causa da bênção para todas as famílias da terra. Assim, ele ainda precisaria compreender que, separar-se do seu sobrinho Ló, também era uma exigência divina, ainda que os olhos humanos não pudessem entender este princípio da operação de Deus. 

Embora chamado para Canaã, Abraão demora-se em Harã, até que os laços da natureza fossem quebrados pela morte. As influências da natureza são sempre hostis à plena realização e poder prático da “chamada de Deus”. Somente a morte quebra esses laços que nos prendem à natureza e ao mundo. É preciso que compreendamos a verdade de que morremos em Cristo (Gl.6:14), estamos crucificados para o mundo; A cruz de Cristo é para nós o que o Mar Vermelho foi para Israel, a saber, aquilo que nos separa, para sempre, da terra, da morte e do julgamento.

Gostaria de apontar aqui alguns aspectos da Cruz de Cristo como base de nossa adoração e de nossa paz com Deus. A mesma Cruz que me liga com Deus separou-me do mundo. Um homem morto, acabou, evidentemente, para o mundo; e tendo ressuscitado com Cristo, está ligado com Deus no poder de uma nova vida, uma nova natureza. Estando assim inseparavelmente unido com Cristo, ele participa da Sua aceitação com Deus, e na Sua rejeição pelo mundo. A primeira faz dele um adorador e cidadão do céu; a segunda torna-o uma testemunha e um estrangeiro na terra.

Não sabemos quanto tempo Abraão se demorou em Harã, até que livre do obstáculo da natureza ele pudesse obedecer plenamente à ordenação de Deus para ir a Canaã. Vemos que Deus, pacientemente e graciosamente, esperou por Seu servo. Contudo não houve adaptação ou mudanças no mandato do Senhor, nem houveram novas revelações à Abraão durante o tempo de sua permanência em Harã. É bom notarmos esse fato, que devemos agir segundo a luz comunicada, somente então, Deus nos dará mais Luz. Àquele que tem se dará (Mt.13:12). Há, quão grande a nossa dificuldade e reluntância em quebrar todos os laços para, então, vivermos uma cega e plena obediência a Deus; não conseguimos perceber que existe verdadeira benção para alma em cada ato de obediência, pois a obediência é fruto da fé.

Gen.12:4 a 6 - Deus não nos obriga a obedecê-lo, porém nos cativa, diante dos nossos olhos coloca figuras de esperança e expectativa. Foi assim no caso de Abraão, o “Deus da glória” lhe apareceu. Com o fim de pôr diante de sua visão um objeto atraente: “uma terra que eu te mostrarei”. A terra de Deus era, no parecer da nova natureza – o juízo da fé – muito melhor que Ur ou Harã; embora ele nunca a tivesse visto, a fé julgava valer a pena possuí-la. Ela não era apenas digna de ser possuída, mas também que valia a pena deixar todas as coisas presentes por ela. Por isso lemos: “Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia” (Hb.11:8). Abraão jamais vira a terra, porém andava “por fé e não por vista” (IICor.5:7), e a fé descansa em um terreno muito mais sólido do que a evidência dos nossos sentidos, isto é, a Palavra de Deus.

É preciso ver uma aplicação prática deste andar pela fé que está aliançada à nova natureza adquirida em Deus pela Cruz de Cristo. Todos podem aceitar o ensino de que devemos renunciar o mundo para ganharmos o céu, mas como pode a natureza decaída renunciar àquilo a que está aliançada? O homem natural não vê encantos no céu e nem mesmo deseja morar nele, ainda que, por medo, até possa desejar escapar do inferno e seus tormentos, mas temos que entender que o desejo de escapar do inferno, e o desejo de se chagar ao céu, partem de duas origens diferentes. O primeiro pode existir na velha natureza, mas o segundo, somente na Nova.     

Quão diferente é o evangelho de um sistema legalista onde se procura servir a Deus com a própria força humana, pois o evangelho da Glória de Deus (ITim.1:11) nos revela o Próprio Deus vindo ao mundo, tirando o pecado pelo sacrifício da Cruz e, não somente isto, mas também concedendo uma nova vida, uma nova natureza ao pecador que antes jazia morto em seus delitos e pecados (Ef.2:1). Seria impossível educar e dominar, por meio de dogmas de uma religião sistemática, uma natureza irremediavelmente corrompida, de maneira a que eu possa desse modo renunciar o mundo que amo, e alcançar um céu que detesto. Deus, em graça infinita, e com base no sacrifício de Cristo, concede-me uma natureza que pode gozar o céu, e o céu para essa natureza gozar é Ele Próprio, a fonte infalível de toda a alegria do céu.

Gen.12:6 a 8 – “E passou Abrão por aquela terra até ao lugar de Siquém, até ao carvalho de Moré; e estavam então os cananeus na terra”. Certamente, a presença dos cananeus na terra de Deus seria uma grande prova para Abrão. Seria uma exigência de Deus para sua fé. “E apareceu o Senhor a Abrão, e disse: À tua semente darei esta terra”. Vemos a ligação entre os dois relatos, os cananeus estavam na terra, mas para que os olhos de Abrão não se fixassem neles, o Senhor aparece a Abrão e reafirma a promessa. Os cananeus na terra são a expressão do poder de satanás. Mas não temos que estar ocupados e preocupados com o poder de satanás, temos que estar focados em nossa herança e no poder de Nosso General, Jesus Cristo. “E moveu-se dali para a montanha do lado oriental de Betel, e armou a sua tenda........ e edificou ali um altar ao SENHOR, e invocou o nome do SENHOR”. É maravilhoso percebermos que o altar e a tenda nos dão os dois grandes traços do caráter de Abrão: Adorador de Deus e estrangeiro na terra. Nada tendo no mundo, temos, todavia, tudo em Deus.

É preciso observar que se os céus nunca tivessem nuvens, e o oceano nunca se agitasse, o crente não conheceria tão bem o Deus com quem temos que tratar. Quando todas as coisas correm agradavelmente, os nossos bens e negócios em plena segurança, somos propensos a confundir a paz que repousa sobre tais circunstâncias com aquela paz que emana do conhecimento da presença de Cristo. O Senhor conhece isto, portanto vem, de um ou de outro modo, e sacode o apoio; isto é, se estivermos descansando nas circunstâncias, ao invés de esperarmos n’Ele. Somos, propensos a pensar que uma carreira de retidão pode ser medida pela ausência de provações e lutas, quando, na verdade, a carreira de obediência é sempre muito difícil para a carne e o sangue. Abrão não encontrou somente os cananeus, mas também “havia fome na terra”.

Gen.12:9 a 12 - Abrão estava no lugar onde Deus o havia posto; e, evidentemente, não recebeu instrução para deixá-lo. A fome estava ali; e, além disso, o Egito ficava perto,oferecendo alívio da pressão; ainda assim o dever do servo de Deus era claro. É melhor morrer-se de fome em Canaã, se assim tiver de ser, do que viver na luxúria do Egito. É melhor sofrer no caminho de Deus do que estar à vontade no de satanás. É melhor ser pobre com Cristo do que rico sem Ele. No Egito Abrão obteve ovelhas, vacas, jumentos, servos, servas, jumentas e camelos (Gn.12:16), para muitos, prova real de que ele havia tomado a decisão correta. Mas, Óh!! Ele nao tinha altar – não Havia comunhão com Deus. O Egito não era lugar da presença de Deus. Abrão perdeu muito mais do que ganhou indo para lá. Quantos, para evitar a provação e o exercício espiritual ligado com o caminho de Deus, se têm desviado para as correntes do presente século mau. Pode muito bem ser que tenham conseguido, como na frase popular, “feito dinheiro”, aumentados os bens, conseguido os favores do mundo e que sejam “muito estimados” pelos seus faraós, alcançado um nome e uma boa posição entres os homens. Será que estas coisas podem ser comparadas com a íntima comunhão com Deus? E podemos trocar uma pela outra? Muitos têm trocado o Senhor por um pouco de bem estar, alguma influência e dinheiro neste mundo.

Gen.12:13 a 20 – “Ora, bem sei que és mulher formosa à vista; E será que, quando os egípcios te virem, dirão: Esta é sua mulher. E matar-me-ão a mim, e a ti te guardarão em vida. Dize, peço-te, que és minha irmã, para que me vá bem por tua causa, e que viva a minha alma por amor de ti. e foi a mulher tomada para a casa de Faraó.........E fez bem a Abrão por amor dela; e ele teve ovelhas, vacas, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos”. Aqui vemos o pai da fé, o nosso herói Abrão, usando de uma triste artimanha, ele já tinha cometido o pecado de descer ao Egito, agora, deliberadamente, se utiliza da beleza de sua esposa para obter os favores financeiros de Faraó, correndo até mesmo o risco de expor sua esposa à vergonha do adultério. Devemos entender que os caminhos do Egito sempre partem  na mais íngrime descida rumo ao precipício e, se não fosse a intervenção divina, o pior teria acontecido a Sarai. Porém o Senhor a protegeu – “feriu, porém, o SENHOR a Faraó e a sua casa, com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher de Abrão”.

A Bíblia deixa claro que Abrão era um pecador dependente da Graça de Deus, como qualquer um de nós e que, assim como ele, todos, quando tentados a seguir o curso deste mundo, devemos lembrar d’Aquele “que se deu a Si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus, nosso Pai” (Gl.1:4). Que Deus nos guarde em Sua mão e à sombra de Suas Asas, até vermos Jesus como Ele é, e sermos semelhantes a Ele, andarmos e estarmos com Ele para sempre.

OBS:. Para acompanhar o Estudo do Livro de Gênesis a partir do capítulo 1 >> CLIQUE AQUI

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