O Hipercrítico
Por Irmão Acyr
"...quanto maior o analfabetismo Bíblico, mais facilmente se pode dominar e conduzir o povo a qualquer idolatria ou falsa religiosidade com fins lucrativos".
Lendo as cartas do Apóstolo Paulo às Igrejas que ele havia plantado e
ajudado em todo crescimento inicial, fiquei bastante surpreso ao encontrar
expressões como estas: “Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou para não
obedecerdes a verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi
evidenciado, crucificado, entre vós?” (Gal.3:1). “Porque ainda sois
carnais; pois havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois
porventura carnais, e não andais segundo os homens?”(ICor.3:3). “Verdade é que
também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa vontade.”(Fil.1:15).
De todas as afirmações do Velho Apóstolo às suas Igrejas, a que mais me
impressiona é aquela em que ele afirma: “Maravilho-me de que tão depressa
passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho”
(Gal.1:6). Lendo o contexto desta carta, vemos uma Igreja do
Senhor Jesus sendo aliciada e corrompida por um novo e falso evangelho, algo
que parecia entristecer sobremaneira o velho e fiel servo de Cristo.
Infelizmente, antes de sua morte, com muito pesar em seu coração, ele
fez uma dolorosa declaração aos líderes da Igreja: “Porque eu sei isto
que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não
pouparão ao rebanho; E
que de entre vós mesmos se levantarão (de dentro da Igreja) homens que falarão
coisas perversas (e convincentes),
para atraírem os discípulos após si” (Atos20:29,30). Esta
profecia do apóstolo se cumpriu em uma velocidade espantosa; não muito depois
de sua morte e, também do martírio de todos os outros apóstolos, apenas um
deles permanecia vivo, preso na ilha de Pátmos, conhecido como o discípulo do
amor, seu nome, João, o mais jovem dos apóstolos, o último a morrer. Já bem
velho, com cerca de noventa anos, preso, por amor ao evangelho, em Pátmos, uma
prisão cruel e fortemente guardada, ali, ele foi visitado pelo Senhor da
Igreja, o próprio Senhor Jesus o encontrou na prisão e lhe ordenou que
escrevesse cartas às Igrejas. Eu gostaria de avaliar, com os irmãos, um pouco
do teor dessas cartas que o Senhor Jesus, tão amorosamente, ordenou que fosse
escrito (Apoc.1:19).
Para Éfeso, que faz tipologia dos primeiros anos da Igreja sobre a
terra, o Senhor faz alguns elogios, mas deixa claro que aquela Igreja
já não o amava como antes: “Tenho porém contra ti que deixaste o teu
primeiro amor” (Apoc.2:4). Para Esmirna, a
Igreja caracterizada pela perseguição e martírio dos fiéis, o Senhor alerta
contra a blasfêmia daqueles que se dizem judeus, mas não são (Apoc.2:9). Mas
para a Igreja de Pérgamo, o Senhor diz algo muito surpreendente, Ele diz
: “Conheço
as tuas obras, e onde habitas, que é o trono de Satanás; que reténs o meu Nome,
e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o
qual foi morto entre vós, onde satanás habita. Mas algumas poucas coisas tenho
contra ti, que tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava
Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos
sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem. Assim tens também os que
seguem a doutrina dos Nicolaítas, o que eu odeio” (Apoc. 2:13a15).
Sempre que penso no meu Senhor Jesus e em todo o Seu amor e bondade,
considero difícil imaginá-Lo dizendo: “ESTES EU ODEIO”. Todo o
início do Novo Testamento nos fala acerca do Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo, um cordeiro gentil, suave, pequeno e inofensivo. Mas no livro de
Apocalipse, este Cordeiro virá como o Leão da Tribo de Judá (Apoc.5:5), uma
aparição completamente diferente daquela vista em sua encarnação. Agora, em sua
segunda vinda sobre a terra, Ele é aquele que tem o poder de julgar,
porque “o
Pai a ninguém julga, mas deu ao filho todo o juízo” (João5:22). “Porque para Efraim serei como um Leão, e como um leãozinho à
casa de Judá: Eu, Eu o despedaçarei, e ir-me-ei embora; arrebatarei e não
haverá quem livre (Oséias5:14).
Desta forma, antes da Sua vinda, o Senhor Jesus escreve uma carta de
alerta! Algo notório nestes solenes avisos do Senhor Jesus, foi o fato dEle
deixar claro que a Igreja de Pérgamo habitava no mesmo lugar onde estava o
trono, ou seja, a soberania de Satanás, esta era uma CRÍTICA duríssima, no
entanto, o Senhor não diz que ela havia deixado de ser Sua Igreja, nem de ser
amada por Ele. Precisamos lembrar que logo no início do livro de Apocalipse o
Senhor Jesus diz a João: “E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo
para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno. Escreve as
coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer”
(Apoc.1:18e19).
Podemos perceber que o Senhor Jesus estava ditando ao Apóstolo João,
cartas direcionadas às suas sete Igrejas da Ásia, mas que estas coisas também
se relacionavam com eventos que “haveriam de acontecer”, portanto, eram
palavras proféticas para o futuro da Igreja. A Igreja de Pérgamo possuía um
governo eclesiástico singular, ela se encontrava no lugar do trono de Satanás,
um lugar onde o inimigo tinha completo e soberano domínio, porém, ela
continuava sendo uma Igreja. Isso poderá parecer contraditório aos nossos
olhos, confesso que, de difícil entendimento. Mas vamos tentar captar a mente
do Senhor nestas Palavras. No verso 13 o Senhor diz que esta Igreja ainda retinha Seu Nome e não negava a fé, portanto, era uma
Igreja Evangélica; Ela também possuía um Antipas, - alguns teólogos, estudando
esse nome concluíram que se refere a alguém que é contra, alguém que não se
rende ao sistema operante! Anti = Contra ; Pas = Tudo , ou seja , Contra-tudo.
Esse era o Antipas. Talvez, ainda hoje, Deus levante homens assim na Igreja.
Então, esta Igreja possuía um Antipas, alguém que não concordava com as
novidades doutrinárias, ainda assim, ela abraçou a doutrina dos nicolaítas e
estava no local de domínio de satanás. O que seria tudo isso? Muitos estudiosos
da Palavra de Deus concluíram que a palavra nicolaíta possuía, em sua raiz,
duas palavras: Nikos e Laus, que seriam traduzidas como: Nikos=Dominar sobre e
Laus= povo comum. Desta forma, concluíram que esta foi a doutrina
do clero, uma elite religiosa que dominava sobre o povo comum, ou seja, a
Igreja possuía líderes detentores de toda a autoridade e um povo completamente
ignorante da Bíblia. Há que se considerar que, quanto maior o
analfabetismo Bíblico, mais facilmente se pode dominar e conduzir o povo a
qualquer idolatria ou falsa religiosidade com fins lucrativos. Esta
foi a principal característica da Igreja Católica medieval, ela instituiu a
proibição da Bíblia, toda sorte de misturas, crendices e misticismo para seus
adeptos.
A filosofia implantada por essa Igreja dizia que qualquer pessoa que
desejasse estudar mais profundamente a Bíblia seria uma pessoa presunçosa que
estaria querendo ser mais sábia do que os outros irmãos e, portanto, estaria
desafiando a autoridade da Igreja. Ninguém poderia contestar os ensinos do
Clero, ou iria para a fogueira para ser queimado como bruxo. Aos poucos a
Bíblia foi removida do meio do povo e os Nikos, os dominadores, formularam a
Igreja que convinha para eles. De uma forma incrível, em nossos dias, isso
parece estar se repetindo nas Igrejas que um dia protestaram contra isso. Os
membros da Igreja assistem a todo tipo de show que vai do hip hop ao funk , das
lutas às artes cênicas, do samba ao sertanejo, do birimbau ao pagode, mas
ignoram completamente as mais básicas doutrinas Bíblicas e qualquer um
que ousar contestar esses ensinos é tido como um desunido, um Antipas, um
crítico que se considera mais sábio que os outros e que não colabora para o bom
andamento do sistema.
Para que possamos entender melhor a última carta do Senhor Jesus às Suas
Igrejas, precisamos saber que cada Igreja representa um período da história.
Assim, poderíamos dizer que Pérgamo representa o início do Catolicismo como
força dominadora sobre o mundo conhecido de então, e que Tiatira, representa o
auge do catolicismo até o seu declínio. Sardes seria o período da reforma
protestante, Filadélfia a Igreja missionária dos séculos XVIII, XIX; e
Laodicéia a Igreja atual. Porém, há que se entender que em nossos dias podemos
encontrar características de Sardes, Tiatira, Filadélfia e Laodicéia misturadas
em uma só Igreja. Laodicéia permanece como a principal em nossos dias, mas não
exclui a possibilidade de permanência das outras. Como seria isso? Vejamos:
Tiatira, O Senhor Jesus diz: “Mas tenho contra ti que toleras Jezabel,
mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que se
prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria” (Apoc.2:20). Aqui vemos o
alerta do Senhor contra os falsos ensinos desta “mulher”, sabemos que, mulher,
no novo testamento faz tipologia da Igreja e, aqui, esta Igreja, conduz o povo
à idolatria. Não é difícil perceber qual a maior de todas as idolatrias em um
país capitalista como o nosso, basta olhar as frases nos vidros dos carros onde
se lê: “Foi deus que me deu!” Quem é esse deus? Não seria Mamom o seu
nome (Mateus6:24)? Quando vemos as
revistas e os shoppings somos bombardeados por todos os tipos de consumo desenfreado,
desejamos o novo celular, a nova bolsa, a nova televisão, o novo computador!
Jezabel, essa mulher que ensina, não perdeu tempo, trouxe para dentro da Igreja
toda essa idolatria, o povo tornou-se consumidor dos eventos evangélicos,
assistem os shows, compram as camisetas e depois contam das “bênçãos” de
consumo que receberam, dão testemunho de todos os bens que o deus Mamom lhes
possibilitou adquirir neste mundo.
Para Sardes, vemos o Senhor Jesus dizendo: “Conheço as tuas obras, que tens nome
de que vives, e estás morto. Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam
para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus.
Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o e
arrepende-te”(Apoc.3:1a3). Podemos perceber o solene aviso dado à Sardes, a Igreja protestante,
lembra-te do que tens recebido. Parece que esta Igreja que havia recebido a
grande revelação e o privilégio de ter a Bíblia traduzida em sua língua natal,
estava deixando a Palavra de Deus de lado e se dedicando a muitas obras
que pareciam belas aos homens, mas não estavam refletindo obediência a
Deus!
Para Filadélfia o Senhor diz algo sublime: “Conheço as tuas obras;
eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca
força, guardaste a minha Palavra, e não negaste o meu nome” (Apoc.3:8). Algo maravilhoso
é dito desta Igreja, ela possuía pouca força; é certo que não deveria ter
grande influência política, trânsito no governo ou templos faraônicos, visto
que Tiatira possuía tudo isso, mas esta Igreja não, ela
era pobre e simples, mas ela tinha algo especial, uma porta aberta, uma escada
de Jacó, suas orações subiam até o Deus dos céus! Que revelação
tremenda e sublime é esta que vemos aqui! Esta Igreja possuía uma porta
aberta, seus cultos não eram shows para agradar a platéia, eram uma
porta aberta para o céu. Suas orações eram incenso suave ao Nosso Deus. Seus
cânticos não eram apelos sensuais às emoções da alma, mas eram louvores de
gratidão ao Senhor. E tudo isso tinha uma simples e prática explicação: “GUARDASTE A MINHA
PALAVRA”. Isto é tudo o que esta Igreja tinha e precisava ter. Ela não
se dedicava a terapias e psicologia barata, ela ensinava e vivia a Palavra,
por isso a porta jamais seria fechada!
Laodicéia, a Igreja dominante de nossos dias, ela ouve do Senhor Jesus a
seguinte crítica: “Assim porque és morno, não és frio nem
quente, vomitar-te-ei da minha boca (uma Igreja moderada e equilibrada
com o mundo).Como
dizes : Rico sou , e estou enriquecido, e de nada tenho falta (tenho todos
os ministérios e entretenimentos); e não sabes que és um desgraçado, e
pobre e cego e nu ...aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo para
que te enriqueças... e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas
(Apoc.3:16a18). Esta Igreja é caracterizada por se achar rica e completa de coisas e
ações, porém, aos olhos do Senhor era pobre e miserável, pois suas “boas obras”
não refletiam o caráter do Senhor. O Senhor ordena que ela compre colírio e
veja o seu grande abismo. Isso parece não nos assustar quando pensamos
que nós somos essa Igreja, nós é que temos, hoje, todos os meios,
todos os recursos, toda a tecnologia em nossos cultos, mas perdemos a visão do
Mestre, Ele está do lado de fora batendo à porta e dizendo: “Eis que estou à porta,
e bato; SE alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta,
entrarei em sua casa, e com ele cearei e ele comigo (Apoc.3:20). O que mais me
impressiona é que o Senhor diz : “Se alguém ouvir a minha voz”. Ele não diz, se
a Igreja ouvir a minha voz, parece que esta Igreja entrou em um estado
de surdez que não lhe é mais permitido recuo, ela não mais ouvirá! Aqueles que
ouvirem terão o Senhor em suas casas, mas parece que na Igreja
teremos apenas os palcos e os shows de entretenimento visual e carnal.
Quero finalizar este pequeno texto, lembrando a todo leitor que, estes
solenes avisos do Senhor Jesus parecem, a princípio, críticas exacerbadas e severas,
mas todo o quebrantado de coração saberá que o Verdadeiro Amor “disciplina, açoita e
corrige a todo que recebe por filho” (Heb.12:5e6). E perceberá, também, que nós não
temos escolha, estamos enquadrados na realidade de uma destas sete Igrejas que
o senhor Jesus citou no livro do Apocalipse, portanto, a nós cabe a
responsabilidade do arrependimento e da volta “ao primeiro Amor”. O Amor pelo
Noivo, o apego à Sua Palavra, a Seus métodos, a Seus ensinos e às Suas
doutrinas e que assim, possamos ter pouca força como Filadélfia, mas uma Eterna
porta aberta para os Céus e o Reino de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!
Que Deus muito os abençoe!