quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Eles Viram o Inferno- Dr. Maurice Rawlings

Consciência Cósmica

Era uma noite gelada de inverno quando fui ao encontro de Bob Kovalesky (nome fictício). Um vento muito forte, vindo da direção do Lago Ontário, assobiava balançando as árvores escuras, penetrava em meus osssos e me empurrava enquanto eu percorria o caminho lajeado rumo a uma casa imensa em estilo georgiano. Bati à porta e a figura enorme de um homem surgiu sob as luzes da varanda. Tinha rosto quadrado e olhos castanhos azulados que lançavam chispas paranóicas em minha direção. Sem dizer nada, fez um gesto para eu entrar e fechou a porta contra o vento. Acompanhei-o até uma sala de estar atapetada. 

Bob trajava roupas quentes para o ambiente - camisa branca de mangas compridas, mostrando sinais de transpiração embaixo dos braços, calça cinza amarrotada e sapatos surrados de uso doméstico. A sala estava bastante aquecida, mas Bob Kovalesky sentia frio e tremia, demonstrando medo no olhar - o olhar assustado de um homem com aparência de 70 anos de idade e não de 40 como era seu caso. 

Balançando a cabeça, Bob acomodou-se pesadamente no sofá e disse: "Estive pensando em estourar meus miolos". Sentei-me ao lado dele e coloquei o braço em seu ombro. "Você se sente tão mal assim?"  "Sim, muito mal, respondeu olhando em direção à janela em cujas venezianas o vento batia. Depois de dois suspiros prolongados ele apontou para a mesa próxima à janela. "A arma está lá", disse suspirando mais uma vez.  "Foi muito difícil esperar sua chegada". 

"Aqui estou", disse eu, servindo-me de um café bem quente despejado de uma vasilha de plástico que Bob me oferecera. "É melhor você me contar tudo desde o momento em que saiu de Toronto nesta tarde". 

O rádio sintonizado em FM começou a tocar uma música. Apanhei uma caneta e um bloco e passei a fazer anotações. Bob Kavalesky era robusto e forte. Ele servia de exemplo para os principais executivos de Toronto. Tinha a fórmula do sucesso. Encontrara métodos para subir até o pico, fórmulas para eliminar os concorrentes. A técnica, dizia ele, consistia de simples exercícios de controle da mente - "controle os outros antes que eles o controlem". 

A história começou em sua infância miserável. Ele era tão pobre que tomou a decisão resoluta de nunca mais viver na pobreza. Ao descobrir que a média das pessoas usa apenas 15% da capacidade do cérebro, Bob resolveu subir na vida, passando a desenvolver o enorme potencial da parte do cérebro não aproveitada. 

Começou no Planned Happiness Institute (Instituto de Felicidade Planejada), onde aprendeu a entrar em transe auto hipnótico, criar objetos mentalmente e manipulá-los para serem usados. Com a finalidade de melhorar o poder da hipnose, ele passou a praticar Meditação Transcendental por meio do grupo "Ciência de Ser". Lá, aprendeu a controlar a mente de outras pessoas com a força de seus próprios pensamentos. À medida que progredia nessa linha, Bob começou a ter mais sucesso nos negócios. A Bíblia que lera na infância advertia contra coisas como hipnose, e ele a pesquisou até encontrar o trecho que diz: "Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus..." (2Co 10.5 NVI). Mas, concluiu Bob, isso não tinha nenhuma importância, ja que as técnicas hipnóticas vinham funcionando. É o que interessa, dizia a si mesmo - que funcione - e não de onde vem o poder. A origem não faz diferença nenhuma. 

Com o decorrer do tempo, Bob acrescentou a astrologia, a antiga atividade metafísica dos babilônios. logo ficou perito em elaborar seu próprio mapa astral, utilizando-o para planejar e tomar decisões em seus negócios. 

Havia algo que aborrecia Bob. Ficara evidente que a astrologia nem sempre era precisa - não resistia aos testes científicos de confiabilidade e reprodutibilidade. Desanimado por essa inconsistência, Bob aderiu à ioga, um sistema de comunicação que vinha em diversas embalagens. A Hatha ioga, descobriu ele, prometia que o participante se tornaria vibrante e irresistível, mestre no amor, na paz e na alegria. Assim, ele contratou um guru particular. No início, os exercícios de ioga pareceram cansativos, mas certo dia as magias secretas do mantra fizeram-no  balançar e tremer com a aparição de alguns seres espirituais fantasmagóricos. Depois de o tranquilizarem, os espíritos esboçaram algumas técnicas poderosas para que Bob dominasse seus concorrentes e vencesse qualquer outra pessoa, à vontade. 

Com o passar do tempo, contudo, algumas dessas entidades teimaram em não desaparecer, como fora seu costume. Sem nenhum motivo, elas começaram a se tornar hostis e passaram a controlar os pensamentos e as ações de Bob, sendo que antes acontecia exatamente o oposto. Suas recitações do mantra, usadas para facilitar os exercícios de ioga, não mais chamavam seu guia espiritual, mas invocavam seres dos quais ele nunca ouvira falar, seres não requisitados. O fato causou estranheza porque as magias da ioga e as meditações transcendentais eram supostamente benignas. 

Desgostoso com esses acontecimentos, Bob voltou-se para outros campos da parapsicologia, e dentre de pouco tempo sua vida foi invadida por fenômenos ocultos e sobrenaturais. Ele fumava e bebia muito, produzia pouco, e seu casamento entrou em crise. 

Certa noite, enquanto se encontrava na posição de lotus da ioga avançada, ele ouviu uma voz vinda das vigas do teto. Imaginou ter ouvido essa voz antes, mas dessa vez ela parecia dizer: "Mate-a, mate-a, mate-a!". Naquele instante Bob convenceu-se de que um demônio estava ordenando que ele matasse sua mulher. Emitindo ondas de pensamento, o demônio deixou claro que a mulher de Bob estava interferindo, porque ela não "fazia parte do esquema". Bob finalmente compreendeu que aquela voz representava a fonte de todo o poder que adquirira. 

"Não conseguia mais controlar a mim mesmo. Estava sob o controle da voz. Fiquei com medo de dormir naquela noite. Deixei as luzes acesas e tomei várias doses de bebida antes de conseguir fechar os olhos", contou Bob. 

Levantei-me, caminhei até a mesa, e peguei a arma de Bob. "Você não vai precisar disto", falei, colocando a arma em meu bolso. Sorri e disse: "Converse com seu sócio amanhã cedo. Eu o conheço. Acho que ele poderá ajudá-lo".

No dia seguinte, o sócio percebeu a possessão espiritual de Bob e perguntou-lhe francamente se ele conhecia Jesus. "Pensei que ele estivesse maluco", contou Bob, "mas percebi que ele já sabia da minha história. Sem nenhum motivo aparente, comecei a chorar descontroladamente. Foi assim que aconteceu. Foi o momento em que aceitei Jesus!"

"Depois de pedir a Jesus para tomar conta de minha vida, libertei-me de repente da força terrível dos espíritos que me dominavam. Senti-me tão livre que quando cheguei em casa naquela noite, minha mulher pensou que eu havia aderido a uma outra seita. Depois disso, foi como se tivéssemos casado outra vez. O encontro com Jesus foi o maior acontecimento de minha vida". Para Bob, foi quase um lampejo de glória. 

O que há realmente no mundo espiritual? O que está oculto nos campos escuros da eternidade? Nesses cantos, Bob descobriu o domínio de duas forças distintas - o bem e o mal - cada qual competindo com poderes imensos. Mas além disso, a força do mal apresentou-se com o lado brilhante para confundir. O lado sombrio raramente foi visto - até a noite em que os espíritos se viraram contra ele inesperadamente. 

Opondo-se a essa força de personalidade dividida, Bob descobriu a força de Deus e seus anjos, apresentando-se com uma única face. O apóstolo Paulo resumiu isso de forma notável em Efésios 6:12-13:


Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.

Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes.



Texto retirado do livro "Eles viram o inferno" do autor Maurice S. Rawlings 

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